HISTÓRIAS DE UM TATUADOR

HISTÓRIAS DE UM TATUADOR

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

De Dia é Maria... De Noite é João...

O preconceito é uma merda.

Com certeza, o preconceito é uma das piores coisas do ser humano.

Infelizmente, o Brasil é o país do preconceito, onde é muito mais fácil cuidar da vida alheia do que olhar para o próprio rabo. Já vi e ouvi muitas histórias sobre preconceito e, pela minha profissão, já senti na pele muitas vezes a discriminação. Quando comecei a me tatuar, há dezenove anos atrás, o preconceito era muito maior do que hoje em dia, mas, ainda estamos longe disso acabar... Infelizmente...

Como sei o que é ser discriminado, evito ao máximo ter quaisquer tipos de preconceitos... Muitas vezes fui julgado pela minha profissão, pelas minhas tatuagens, pelos meus piercings, sem nem mesmo ter a oportunidade de mostrar quem sou... Não podemos julgar um livro pela capa!

Definitivamente não sou um cara preconceituoso, mas, nesta ocasião...

Tenho que começar a contar este episódio desde o início, para que fique tudo bem claro...

Estava eu em meu estúdio quando o telefone tocou. Tratava-se de uma cliente antiga que há tempos não vinha fazer uma tatuagem. Conversamos por alguns minutos e acabamos marcando um horário para que, no dia seguinte, ela viesse fazer um novo trabalho.

No dia seguinte, na hora combinada, sem atraso, a garota chegou. Trouxe com ela uma amiga, a qual também estava interessada em fazer sua primeira tatuagem. Até aí, tudo normal...

Ambas escolheram seus desenhos e me pus a trabalhar. Passei a tarde tatuando as duas clientes que, ao término do trabalho, ficaram satisfeitíssimas com o resultado final. Agradeceram, pagaram e se foram. Mais um dia comum de trabalho... Até aí, tudo normal...

Uma semana depois...

O telefone tocou e logo atendi. Era uma garota interessada em marcar um horário para vir fazer sua tatuagem. Sua voz era rouca e usava muitas gírias em seu vocabulário... Dizia ela que havia visto um de meus trabalhos e gostou muito do que viu... Disse também que era irmã de uma das garotas que vieram na semana passada, e foram elas que acabaram indicando meu estúdio... Até aí, tudo normal...

A tal garota continuou a conversa:

“—Eu queria escrever um nome em japonês ou chinês... Sei lá! Queria que você já fosse preparando a tattoo aí pra eu fazer no próximo sábado... Pode ser?”.

Claro que respondi que não havia problemas... E não ache que escrevi incorretamente a frase acima, com a fala da garota... O caso é que ela falava assim mesmo!

Bastava agora marcarmos um horário e eu esquematizaria a escrita para que pudéssemos tatuá-la. Até aí, tudo normal... Mas só até aí...

Perguntei então qual nome seria tatuado, para que pudesse passá-lo para o idioma japonês. Ela respondeu:

“—Ah! O nome! É mesmo, cara! O nome... Bem... Ah... Sei... O nome... Não posso... Não dá... Só um minuto...”.

Para variar, comecei a não entender o que acontecia. Como ela queria que eu preparasse a tatuagem sem que me passasse o nome em questão? Aguardei por um tempo na linha quando a garota retornou:

“—Olha... Não posso te passar o nome agora... Te ligo daqui a cinco minutos e te digo... Agora não dá... Entende?” – cochichou, literalmente, a menina.

É claro que não entendi, mas esperei que ela retornasse a ligar.

Meia hora depois...

Atendi ao telefone e era novamente a garota. Ela continuava cochichando e eu continuava sem entender direito a situação:

“—Desculpe... Àquela hora meu vô tava aqui do meu lado pescoçando e não dava pra falar... Você sabe, né... Olha cara, o nome é ‘Samara Meu Amor’... Quero que a tattoo tenha uns quinze centímetros... Você pode me falar quantas letras você acha que são e quanto ficaria o preço?” – a garota falava mais baixo ainda do que da última vez e tive que prestar muita atenção no que ela dizia para que pudesse entender.

Expliquei então que não seria possível escrever “Samara meu amor”, por causa dos alfabetos japoneses que não nos permitiriam com facilidade escrever aquilo. Disse que seria mais fácil escrever somente o nome, onde usaríamos o katakana, e complementaríamos com o kanji que representa o “amor”.

Sem questionar, a garota topou rapidamente que fosse daquela forma.

Disse então a ela que seriam três letras mais o kanji... Passei o valor e marcamos o horário para o sábado... Fiquei tentando adivinhar quem seria a tal Samara: poderia ser a mãe, poderia ser uma filha... Certo?

Errado!

No dia seguinte...

O telefone tocou. Aqui no meu estúdio isso acontece muitas vezes ao dia, mas, isso não vem ao caso...

Atendi. Era a garota novamente. Cheguei a pensar que ela cancelaria o horário marcado para sábado, mas não era isso... Ela queria me pedir um favor:

“—Olha, cara... Preciso te pedir um favor... Amanhã, quando eu for aí fazer a tattoo, não diz de forma nenhuma o significado do que eu to escrevendo em mim! O filho da Samara cismou que quer ir comigo aí ele não pode saber o que significa a tattoo... Certo? Você sabe, né... Se o moleque perguntar diz que tudo significa ‘amor’... Certo? Valeu!”.

Não questionei, não entendi, mas já sabia o que fazer...

No dia seguinte, sábado...

Geralmente meus sábados são cheios de afazeres... Trabalho o dia inteiro... As pessoas reservam esse dia para virem conhecer o estúdio, escolher desenhos e, principalmente, fazerem suas tatuagens.

Trabalhei desde o primeiro horário. Começo a atender por volta das 10:00h e, quase sempre, só paro no fim do dia.

O horário das 14:00h estava reservado para a tal garota das letras japonesas. Meia hora antes a campainha tocou. Era a irmã da garota, a qual eu havia tatuado na semana passada... Lembra? Sentou-se e ficou esperando pela irmã que, por incrível que pareça, não chegou atrasada! Muito pelo contrário! Ela chegou com quinze minutos de antecedência!

Lembre-se que não sou preconceituoso. Estava na cara a opção sexual da menina! Acredito que essa opção não influi em nada do que vou contar agora. Será que só porque você tem uma opção sexual diferente você precisa ser esquisito? Será que a opção sexual precisa fazer com que uma pessoa se torne tão estranha (para não usar outra palavra)?

A garota era bem magra, cabelos mal tratados na altura dos ombros. Usava uma camiseta branca suja de terra e uma calça de agasalho. Trazia nas costas uma mochila e uma pipa! Isso mesmo! Uma pipa, ou papagaio, ou quadrado, ou maranhão, como queira! A rabiola estava enrolada na pipa e a garota a trazia enroscada em seu ombro...

Entrou e já foi logo me cumprimentando com um forte e firme aperto de mão:

“—E aí, truta? Beleza? Vim fazer a tattoo! Sei que to um pouco adiantada, mas ta limpo...” – disse a garota enquanto tentava esmagar minha mão.

Era praticamente um moleque de cabelos compridos. Começou a olhar os desenhos nos quadros da sala de recepção enquanto conversava com a irmã. Terminei de ajeitar as coisas para dar início ao trabalho quando me lembrei de perguntar onde seria feita a tatuagem. A garota sorriu e respondeu:

“—Há! Há! Há! Vou fazer aqui ó... Do lado do pau! Há! Há! Há! Dói muito aqui?” – falou passando a mão entre a virilha e a coxa esquerda.

Mas... Do lado do “pau”? Qual “pau”? Pelo que eu sabia, ela era mulher... Mas ela realmente era mulher! Será que “pau” seria um apelido carinhoso para a sua vagina? Respirei fundo e continuei o procedimento...

Terminei de arrumar as coisas e chamei a cliente. Ela já entrou na sala de tatuagem puxando a lateral da calça para baixo e dizendo:

“—E aí, cara... Vou ter que ficar pelada? Há! Há! Há! Tenho vergonha de mostrar a bunda e o pau! Só não tenho vergonha da minha mina!” – puxava cada vez mais a calça, revelando uma calcinha enorme na cor laranja.

Eu disse então que não seria necessário que ela ficasse pelada. Bastava que se deitasse e descesse a calça. Entreguei-lhe uma toalha para que cobrisse as partes íntimas, mas, antes de deitar na maca, a garota já foi logo arregaçando a calça...

Foi uma das visões mais aterrorizantes da minha vida.

Eu nunca na minha vida havia visto uma vagina tão peluda! Parecia uma moita... Um bicho... Uma peruca... Sei lá! Os pêlos iam de ponta a ponta na virilha e preenchiam completamente o púbis, subindo pelo abdômen e alcançando o umbigo!

A garota se deitou e eu me afastei. A impressão que eu tinha era de que a qualquer momento um bicho sairia daquela moita e pularia em cima de mim! O tufo era tão grande que parecia ter mais cabelos ali do que na minha cabeça!

E já que o assunto é pêlos...

Com a retirada da calça, pude ver as pernas finas da garota... Lembraram-me as pernas de um urso... Tinham mais pêlos do que as minhas! Acho que ela tinha alguma espécie de tara por pêlos...

A garota, já deitada, cobriu-se com a toalha deixando à mostra apenas o local onde seria feita a tatuagem. Depilei o local... E como depilei! Neste momento, a garota acomodou-se colocando uma das mãos por baixo da própria cabeça, deixando aparecer os vastos cabelos em sua axila... Por um momento cheguei a pensar que ela poderia estar se transformando num lobisomem ou coisa parecida, mas, não havia Lua, era dia, e ela simplesmente era uma garota extremamente peluda! Antes de continuar a contar essa história, não posso deixar de salientar o buço... Você já pode imaginar como era o buço da menina...

Em meio àquela imensidão de pêlos comecei, finalmente, a tatuar...

Fiquei calado imaginando um porque para aquela falta de barbeadores, depilações, ceras quentes, enfim, algo que justificasse aquele cultivo de pêlos... Já vi e conheço muitas outras lésbicas e nenhuma delas são daquele jeito... Será que a garota deixou de se depilar só porque é lésbica? O que os pêlos têm com isso? Será que ela queria se tornar mais masculina? Não sei... Pensei mil coisas...

Durante todo o processo da tatuagem a garota não disse nada. Reclamou aqui e ali um pouco da dor, mas só isso. Às vezes cochichava algo com a irmã. Mais nada.

Também me mantive calado, me sentindo como se tatuasse o Toni Ramos, ou algo parecido...

Depois de quase quarenta minutos, eis que o nome da namorada estava gravado para sempre na pele da garota. Aliviada, levantou-se, presenteando-me com mais uma triste visão: uma mirrada e caída bundinha, também com alguns pêlos, só para variar...

Terminei os procedimentos, a garota me entregou o cheque e, para fechar com chave de ouro, pegou sua pipa e me deu outro forte aperto de mão... Dizendo:

“—Valeu aí, campeão! Até a próxima!”.

Despedi-me da irmã e ambas se foram.

Rezo a Deus para que aquele visual não se torne moda... Ser gay ou lésbica não significa que é preciso ser desleixado ou descuidado com a própria aparência... Mas, enfim, cada um na sua... E como dizia minha avó: “Uns gostam dos olhos... Outros da remela...”.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tatuagens "Estranhas"

Intitulei este post como "Tatuagens Estranhas", pra não dizer outra coisa...
As tatuagens vão muito além de uma realização pessoal... Muitas vezes são feitas apenas pelo simples fato do tatuado ter gostado muito de um desenho... Outras vezes, são feitas para marcar um acontecimento, uma época, um evento, ou homenagear alguém ou algo...
Mas, existem pessoas que realmente "inventam moda"!
Separei algumas imagens de tatuagem bem "diferentes", se é que se pode dizer assim...
A galera inventa cada uma...

















Infelizmente, não fui eu que fiz nenhuma das tattoos acima... Caso queira ver alguns de meus trabalhos, acesse minha Galeria de Fotos!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Palhacinho

Muitas vezes já me peguei tentando imaginar o que se passa nas cabeças das outras pessoas.

Acredito plenamente que, quando não ocupamos a mente, acabamos inventando coisas que até Deus duvida!

No meu ramo de atividade eu encontro muitos exemplos de pessoas que devem ficar em casa com a cabeça desocupada e imaginando um monte de loucuras para desenhar no corpo, isto é, tatuagens malucas...

É certo que, em torno de 90% das tatuagens que já fiz são normais e os outros 10%, obviamente, são os maiores devaneios possíveis.

Este episódio foi mais uma das ocasiões onde eu tentei de todas as formas entender o que acontecia, mas, para variar, acabei desistindo e me conformei...

Uma mulher me telefonou uma vez querendo marcar um horário para conhecer o estúdio, olhar alguns desenhos, o de praxe. Disse também que traria sua filha, a qual também tinha interesse em fazer uma tatuagem. Até aí, tudo normal... Mas só até aí...

No dia e na hora combinada lá estava eu esperando por mãe e filha. Preparei as coisas e já fiquei alerta, caso alguma delas quisesse tatuar naquele dia mesmo.

Finalmente a campainha tocou. Atendi a porta achando que se tratava das duas mulheres as quais eu esperava, mas não eram... Era um rapaz. Nunca o vi na vida. Queria conhecer o estúdio e ver alguns desenhos... O rapaz entrou e sentou-se... Neste instante a campainha tocou novamente. Liguei a tv e pedi que o tal rapaz aguardasse um momento. Atrasadas, eis que chegam as duas. Ou melhor, as três...

Não entendi ao ver entrando as três mulheres, afinal, pelo que eu sabia, viriam apenas duas. Uma delas aparentava ter em torno de dezoito anos. Tinha cabelos longos e castanhos, olhos da mesma cor e pele extremamente branca. Vestia roupas jovens: mini-saia, blusinha, tênis... Essas coisas.

A outra já aparentava ter seus quarenta e poucos anos. Seus cabelos alcançavam os ombros e eram nitidamente tingidos de loiro. Olhava tudo com desconfiança. Parecia estar com medo de alguma coisa.

A terceira era uma senhora. Tinha já seus cabelos brancos, ou melhor, roxos (não sei como as velhinhas conseguem ficar com os cabelos daquela cor)! Usava um vestido florido no mesmo tom do cabelo e tinha uma maquiagem bastante carregada.

Fiquei confuso, afinal, qual delas teria me ligado? Quem era a mãe que dissera que traria a filha? Quem era a filha? Quem era a mãe?

Sentaram-se e passaram a olhar as pastas de desenhos.

Quase não falavam, e quando o faziam, era num tom tão baixo que pareciam estar rezando. E eu ali, sentado, sem graça, observando...

A mais nova demonstrava muito interesse nos desenhos que via, enquanto a velhinha apenas passava os olhos pelas pastas. Resolvi então ligar o rádio para quebrar um pouco o silêncio quando ouvi uma delas falar:

“—Olha mãe! Olha mãe! O “Churcky”! O Fernandinho ia adorar esse desenho do “Churcky”! Se ele estivesse aqui garanto que ele ia querer tatuar o “Churcky”!” – era a do meio, ou melhor, nem a menina, nem a velha, gritando sobre o tal “Churcky”... Mas que raios seria o “Churcky”?

Rapidamente, a mulher se levantou e foi ver quanto custava o tal desenho. Neste momento pude ver que o “Churcky” era o “Chucky, o Brinquedo Assassino”! A letra “r” que ela colocou no meio do nome do personagem ficava por conta dela, e quem seria eu para corrigi-la...

A mulher voltou para o sofá e ali ficaram por mais uns vinte minutos, observando as pastas. Fiquei tentando imaginar quem faria a tatuagem e qual desenho seria. Provavelmente a garota mais nova faria uma tatuagem pequena e delicada. Já a mulher poderia fazer algo que há tempos tinha vontade de fazer e a velha só estava acompanhando as duas. Pelo menos eu já sabia que a senhora era mãe da mulher e só faltava descobrir se a garota também era da família...

Logo, a velha permaneceu sentada enquanto as outras duas me enchiam de perguntas. Aquelas perguntas que quase nunca escuto: “Tatuagem dói? Onde dói mais? É verdade aquela história que tem que ter três tatuagens? Quantas tatuagens você tem? Você vai vendar sua pele para os japoneses? O que é isso aí que você tem no braço? E na perna? Sua mãe não fala nada? E seu pai? O que as pessoas geralmente fazem? Em qual local? Você é de alguma gangue? Mas e se você se arrepender? E para arrumar trabalho depois? É verdade que a tinta vermelha dói mais? É verdade que não pode comer ovo depois que tatua? E carne de porco? Quanto tempo tenho que ficar sem ir para a praia? Tem que passar bronzeador? Você que se tatuou? Quem fez suas tatuagens? Qual a tatuagem mais maluca que você já fez? E o local mais estranho que você tatuou? Você vai me dar um desconto?” E muitas outras perguntas que devo ter respondido milhares de vezes em toda a minha vida...

Depois do interrogatório, perguntaram sobre os desenhos que haviam escolhido, mas disseram que não fariam naquele dia. A velha permanecia calada. Nessas alturas eu já havia escutado a garota chamar a senhora de avó, então, finalmente, vi que se tratava de mãe, filha e neta.

“—Amei o “Churcky”! O Fernandinho vai amar o “Churcky”! Ele adorou todos os filmes do “Churcky”, principalmente aquele... Como é o nome mesmo? Ah, já sei! “A Esposa do Churcky”!” – continuava gritando a mulher sobre o “Chucky”, mesmo sem saber que o nome do filme em questão era “A Noiva do Chucky” e não a esposa...

Você deve estar se perguntando: “Por que será que esta história se chama O Palhacinho”? Calma... Calma... Eu chego lá...

Passada toda essa ladainha, as mulheres resolveram ir embora. Pegaram suas bolsas, despediram-se, agradeceram e foram. Mas havia um porém: a velha ficou! Depois que as duas saíram, a velha se aproximou e disse:

“—Meu rapaz... Eu gostaria muito de fazer uma maquiagem definitiva! Não sei se você faz, mas queria fazer o contorno dos meus lábios e refazer minha sobrancelha... Você faz?”

Fiquei muito surpreso ao ver que a única que realmente faria a tatuagem seria a velhinha! Disse a ela que faria sim o que ela havia me pedido e logo combinamos o preço. Ela pagou adiantado (coisa rara) e fomos para a sala de tatuagens.

Preparei o material e comecei pelo contorno dos lábios. Minha primeira e complicada tarefa: depilar o buço da senhora! E olha que era um buço de respeito! Tinha mais bigode que eu... Quando a velha viu que eu rasparia seu bigode, ela disse:

“—Meu rapaz... Ainda bem que ontem mesmo eu me depilei todinha! Todinha mesmo...”

Ao ouvir aquilo, fiquei imaginando um monte de coisas que não quero nunca mais imaginar na minha vida.

Não questionei o fato do buço estar extremamente peludo, mesmo a velhinha afirmando que havia sido depilada... Será que aquele baita bigode havia crescido do dia para a noite? Imaginei se ela não tivesse sido depilada! O buço estaria igual ao de um português dono de padaria...

Foi um custo raspar aquilo... Mas vamos esquecer o buço.

Quando eu disse que as pessoas não têm mais o que inventar, eu me referia a cor que a velhinha escolheu para contornar os lábios: vermelho! Ela já tinha lá os seus sessenta anos e a boca já não era mais a mesma... Sabe como é boca de velha... Posso lhe garantir que foi muito difícil esticar aquela boca e contorna-la de vermelho!

O pior é que a boca era tão sensível e enrugada que logo inchou... Mas inchou bastante! O melhor estava por vir...

Raspei o que restava da sobrancelha antiga da velha e desenhei, com uma caneta adequada, outra no lugar... Certinha... Linda... Exatamente como deveria ser! Pedi para que a senhora olhasse no espelho antes que eu começasse a tatuar, foi quando ela disse:

“—Ficou muito bom, meu rapaz! Adorei o tamanho, o formato... Mas só queria que mudasse uma coisa: queria que você a fizesse mais para cima! Mais pra cima, por favor...”

Eu havia desenhado a sobrancelha no local exato onde deve se ficar uma sobrancelha, mas a velha queria que eu deslocasse o desenho mais para cima! Queria que eu desenhasse um par de sobrancelhas no meio de sua testa!

Ainda tentei fazer a senhora mudar de idéia, mas, foi em vão... Desenhei as sobrancelhas novamente bem no meio da sua testa e ela amou:

“—Agora sim! Agora sim! É aí que quero as minhas sobrancelhas! Agora ficaram perfeitas! Pode tatuar!”

Era óbvio até para um leigo que as sobrancelhas não estavam no local correto. Mesmo assim, respirei fundo, coloquei as luvas e a máscara e iniciei o trabalho...

Durante a tatuagem, os lábios da velhinha inchavam cada vez mais a ponto de dobrar de tamanho! Pedi para que ela não movimentasse muito a boca, mas ela não me obedeceu...

Depois de vinte minutos de trabalho eis que estavam prontas as sobrancelhas da velha. Para piorar, ela pediu para que eu fizesse sobrancelhas marrons! A pele do rosto é muito sensível... Imagine de uma velhinha! É claro que logo as sobrancelhas marrons também incharam, fazendo parecer que a velha havia sido picada por um inseto bem na testa!

A senhora levantou-se e foi até o espelho ver o resultado do trabalho:

“—Amei! Amei! Ficaram exatamente como imaginei! Tanto a boca quanto às sobrancelhas ficaram lindas!” – exaltava-se a velha, sem saber o real resultado do trabalho.

Sei que sou suspeito para falar, mas a técnica e o resultado do trabalho ficaram perfeitos. Mas imagine uma velha de cabelos roxos, vestido roxo, boca inchada vermelha e sobrancelhas marrons bem no meio da testa! Parecia que ela estava constantemente de olhos arregalados e fazendo “biquinho”...

Confesso que tive que me conter para não rir. Tive que manter o profissionalismo a qualquer custo. Pena que não tinha filme na minha máquina fotográfica para registrar o momento (naquela época ainda se usava máquinas fotográficas com “filme”)...

Agora você já deve saber por que este capítulo se chama “O Palhacinho”... Velha, enrugada, cabelos e vestido roxo, boca grande e bem vermelha, olhos arregalados, sobrancelhas marrons no meio da testa... Era um verdadeiro palhacinho!

Só faltou o nariz vermelho...

Viu só como as pessoas inventam?

Ah! Esqueci do rapaz!

Acredite se quiser... Ele ficou o tempo todo sentado, assistindo tv, ouvindo e vendo tudo o que aconteceu! Entrou mudo e saiu calado...

Não viu desenho nenhum, não conheceu o estúdio, enfim, só assistiu tv! Quando me dei conta, ele já estava até com o controle-remoto na mão!

Ao final de toda a história, ele se levantou, agradeceu, soltou o controle, e foi embora... Depois de ter passado um tempão assistindo tv no meu estúdio...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Tatuagens que você NÃO deve fazer!

Existem milhares de estúdios de tatuagens espalhados por aí... A cada dia, em cada esquina, você encontra um novo estúdio, pronto para tatuar todo mundo...
O problema é que, de uns tempos pra cá, muitas pessoas decidiram ingressar na carreira de tatuador, mas, não fazem a mínima idéia do que estão fazendo... Infelizmente, para ser um tatuador, você precisa ter alguns pré requisitos, como, ter a mínima noção em desenhos, concentrção, paciência, dom, etc...
Algumas pessoas acreditam que a profissão de tatuador é facil e procuram nela uma "mina de ouro", achando que vão ganhar muito dinheiro... É nessa hora que o tal "tatuador" sai por aí fazendo um monte de cagadas, tatuando à preço de banana, sem qualidade, sem profissionalismo, sem a mínima noção do que está fazendo! Estes "oportunistas" deveriam mudar de profissão...
Por outro lado, algumas pessoas que querem ter uma tattoo, procuram somente "preço"... Mais nada... Lembre-se: o barato sai caro! Ainda mais quando o assunto é tatuagem! É nessa hora que esses "tatuadores oportunistas" se aproveitam e cobram um valor muito baixo, atraindo este cliente que só pensa no "desconto", e a tatuagem acaba sendo uma catástrofe!
A tatuagem é uma coisa séria, pra vida toda! Quando for fazer sua tattoo, escolha um profissonal competente, sério, de qualidade... Veja seus trabalhos anteriores... Não vá atrás só do preço baixo! Não é certo pagar muito, mas sim, pagar um preço justo por um trabalho bem feito, que vai ficar com você para o resto da sua vida!
Separei abaixo algumas fotos de tatuagens que mostram exatamente o que eu quero dizer... Mostram exatamente o resultado de uma tatuagem feita por alguém que não sabe o que está fazendo... Provavelmente essas tatuagens custaram um preço bem barato, mas, no fim, sairam bem caras...
QUERO DEIXAR CLARO QUE NÃO FUI EU QUE FIZ NENHUMA DESSAS TATUAGENS ABAIXO!!! Alguns de meus trabalhos estão em www.geantattoo.nafoto.net